James Lawley e Penny Tompkins
Este artigo explica porque a metáfora é um caminho natural para descrever a doença e a saúde, a importância do reconhecimento das metáforas do paciente/cliente e como trabalhar por dentro dessas metáforas pode ativar o processo de cura pessoal de um indivíduo.
O uso de metáforas e de símbolos no processo de cura data de milhares de anos. Nos dias de hoje, médicos praticantes treinados tradicionalmente fazem uso da metáfora e de imagens em pacientes com câncer e outras doenças. Um novo processo, a Modelagem Simbólica, explicado em detalhes em nosso livro, "Metaphors in Mind: Transformation through Symbolic Modelling", segue essa tradição.
As metáforas definem a realidade
Por longo tempo, as metáforas foram vistas como "meramente figurativas" e consideradas uma maneira inadequada de descrever experiências. Hoje, muitos cientistas cognitivos, linguistas e filósofos reconhecem que "Em todos os aspectos da vida... nós definimos a nossa realidade em termos de metáforas. Nós fazemos inferências, estabelecemos metas, nos comprometemos e executamos planos, tudo na base de como nós estruturamos em parte a nossa experiência, consciente ou inconscientemente, por meio da metáfora." E como muitos profissionais da área da saúde descobriram, as metáforas podem desempenhar um papel vital no processo de cura.
Uma montanha árida com neve no topo
Uma dermatologista que faz uso da Modelagem Simbólica, Dra. Justina Cladatus, relata: "Um dos meus pacientes tinha problema de alopecia areata (calvície irregular). A sua metáfora inicial para o sintoma era de uma montanha árida com neve no topo. Conforme o processo se desenvolvia, ele se descobriu atado a uma parede com uma corda marrom escuro num quarto escuro e cinzento com apenas uma pequena janela trancada. Sua metáfora foi evoluindo até ele estar de pé ao lado de um poço branco num bonito vale cheio de flores amarelas e uma vegetação verde. O poço era uma fonte de água fresca. Durante esse tempo, a neve derreteu, e a montanha se tornou uma pequena colina com árvores crescendo nela. E o seu cabelo começou a crescer de novo."
Coelhinhos e cenouras de câncer
Peter Hettel foi diagnosticado com câncer de sinus. Após a cirurgia, seu câncer retornou, e aí ele começou a trabalhar com imagens e símbolos. Peter descobriu que suas células imunológicas eram como "coelhinhos se banqueteando nos campos de cenouras-câncer cor de laranja, as quais aumentavam sua energia e apetite sexual, e por isso eles faziam sexo e surgiam mais coelhinhos que também ficavam esfomeados e comiam mais". Uma manhã, ele percebeu, com surpresa, que ele não conseguia encontrar cenouras suficientes para todos os seus coelhos! Umas semanas depois ele literalmente cuspiu fora o seu tumor. Seu médico disse "Era como se seu corpo tivesse rejeitado um objeto estranho, como uma rejeição de transplante, como que expelida pelo seu corpo. Eu não tenho explicações para isso".
Metáfora em consultas de saúde
Os pacientes, muitas vezes, usam a metáfora espontaneamente na conversa para descrever seus sintomas. Um médico declara: "Meus pacientes, classicamente, descrevem as dores com metáforas com algo nodoso, apertando ou queimando. Eu descobri que os pacientes com câncer usam particularmente metáforas vívidas: ‘isso está me corroendo’ ou ‘eu estou com medo que isso se espalhe rapidamente’."
Um recente estudo das expressões metafóricas usadas por médicos e pacientes, concluiu que: "Se na verdade as metáforas são a personificação da experiência, em vez de, ou bem como, analogias superficiais em prol da lucidez, a compreensão da metáfora é tão importante para os médicos como é a compreensão das crenças de saúde do paciente". Depois de registrar 373 consultas de 39 clínicos gerais, o estudo descobriu que isso pode ser verdade embora "não existam diferenças significativas entre os médicos e o uso que eles fazem de metáforas particulares... existem algumas claras distinções entre as metáforas dos médicos e dos pacientes". Os médicos tendem a usar metáforas que assumem que o corpo é uma máquina (o trato urinário é o "sistema hidráulico", os corpos podem ser ’reparados’, as juntas sofrem ‘desgaste’); as doenças são quebra cabeças (sintomas são ‘pistas’ para os ‘problemas’ que têm que ser ‘solucionados’) e o médico é um controlador (eles ‘administram’ a medicação para ‘controlar’ os sintomas e ‘comandar’ a doença).
As metáforas dos pacientes, por outro lado, eram mais vívidas, expressivas e idiossincrásicas (é "como se o Satanás tivesse entrado nela", "eu sou o homem feito de algodão", "é como uma lanterna chinesa", "é como se isso ficasse cada vez mais apertado", "é como se eu tivesse levado uma surra no corpo"). Mesmo quando os médicos e os pacientes usam as mesmas palavras (como ‘tensão’, ‘relaxamento’, ‘nervos’), os médicos tendem a usá-las literalmente enquanto os pacientes as usam metaforicamente. Os pacientes usam metáforas como ‘pesado’, ‘penetrante’ e ‘afiado’ para descrever dores e sofrimentos, mas essas palavras nunca foram usadas pelos médicos que tomaram parte nesse estudo.
Além de serem poucas as metáforas usadas igualmente pelos médicos e pacientes – doença é um ataque (coração, asma e ‘ataques’ de pânico, ‘luta’ contra a infecção) e doença é ardência, fogo (a dor que ‘queima’, estado ‘inflamatório’, sintomas ‘explodindo’) – podemos concluir que médicos e seus pacientes falam línguas diferentes. Não é de admirar que tantos pacientes ressintam-se de não serem ouvidos, e que ocorram erros de comunicação. Um relatório do Institute of Medicine sobre erros médicos estima que nos Estados Unidos "morrem entre 44 e 98 mil pacientes hospitalares a cada dia por erros médicos evitáveis... que morrem mais pessoas por dia por causa dos erros do que de câncer de mama ou de acidentes de trânsito; mais da metade dessas mortes são evitáveis... Erros resultam de percalços na prescrição, lacunas na comunicação e de um quadro de funcionários distraídos."
Se os profissionais da saúde fossem treinados para reconhecer as metáforas dos pacientes, para aceitá-las como uma descrição acurada da doença e estive