Si Mesmo, "Autoconceito Negativo"



Steve Andreas
Quando as pessoas falam de um autoconceito negativo, o que elas geralmente querem dizer é que têm um conceito de si mesmas expresso de maneira negativa. Por exemplo, quando alguém afirma: "Eu sou desajeitado", pois raramente alguém valoriza a falta de jeito ou de graça. No entanto, mesmo se a pessoa não valoriza o fato de ser desajeitada, esse é um nome dado a um conjunto de comportamentos que podem ser representados positivamente, sem qualquer negação. Isto é, posso fazer imagens daquilo que significa ser desajeitado - fotos de mim mesmo tropeçando, ou derramando coisas, ou quebrando coisas, etc.
Neste seminário, quero explorar uma espécie bem diferente de autoconceito negativo, no qual a representação do autoconceito é negada. Freqüentemente, ouvimos as pessoas dizerem: "Não sou o tipo de pessoa que –" ou "Não sou –" ao invés de "Eu sou –" Se você diz si mesmo: "Não sou cruel", isso geralmente elicia um conjunto muito diferente de representações do que se você dissesse: "Eu sou clemente." Posso imaginar alguns leitores dizendo: "Bem, 'não cruel' significa o mesmo que ´clemente´" Mas, enquanto essas duas frases podem significar a mesma coisa, as experiências sobre as quais elas se baseiam são geralmente muito diferentes, e as conseqüências de usar uma ao invés da outra podem ser profundas e abrangentes.
Autoconceito negativo (valorizado negativamente)
Gostaria que você pensasse em algo que você não é, uma qualidade da qual você não gosta. Eu uso clemência e crueldade como exemplo, porque gostaria que houvesse mais clemência no mundo, mas você pode usar outra qualidade ou atributo, se quiser. Se você disser a si mesmo: "Eu não sou cruel", eu pergunto: como você sabe disso? Como você representa isso internamente? Tome alguns minutos para experimentar como se sente ao definir uma qualidade que você tem por aquilo que você não é. Isso pode ajudar a comparar sua experiência da mesma qualidade definida positiva e negativamente. Qual é a diferença entre sua experiência de "Eu não sou cruel" comparada com "Eu sou clemente?" Em um artigo anterior publicado na Anchor Point ("Construindo o autoconceito", Julho de 2001), eu apontei a diferença entre o que chamo de representação sumária, que serve como uma "breve referência" de uma qualidade de autoconceito, e o conjunto de dados mais extensivo com exemplos que oferecem uma base da evidência dessa qualidade. Qual é sua base de dados para "não cruel", e qual é o impacto que ela exerce sobre seu comportamento?
Agora, juntemos diversos exemplos de como experimentamos uma qualidade definida negativamente, e valorizada negativamente. Devido à dificuldade em falar sobre negações, o uso de um pouco de conteúdo pode ajudar. A fim de preservar sua privacidade, sugiro que seja qual for a qualidade escolhida, de que você não gosta, falemos na palavra "cruel", como uma espécie de código para isso.
Fred: Eu vejo a palavra "cruel" muito mais forte e clara do que "clemente". A base de dados de cruel é aquilo que se esperaria – muitos exemplos de pessoas sendo más, e gozando com o sofrimento alheio. Eu não gosto de ver todas essas imagens, e eu quero afastá-las de mim.
Rene: Eu vejo imagens de outras pessoas sendo cruéis, mas permaneço dissociado. Geralmente entro em minhas imagens, porque mesmo quando não desejo realmente fazer algo, quero sentir como seria fazê-lo. Portanto, eu começo a entrar nisso, e uma voz diz: "Não", e eu volto atrás.
Lois: Eu sou como o Rene, mas quando eu entro, sinto medo, e depois penso: "Bem, se não sou assim, como é que eu sou?"
Al: Eu vejo imagens de figuras indistintas, quase paradas, de alguém sendo cruel e depois tenho um sentimento de recuo e encolhimento, querendo defender-me.
Steve: Ótimo. É tudo muito parecido, embora cada um de vocês tenha notado aspectos um pouco diferentes da experiência. As palavras são coisas estranhas, e, muitas vezes, as pessoas descobrem maneiras criativas para compreendê-las. Algum de vocês fez alguma coisa diferente?
Ann: Eu fiz imagens de algumas vezes em que eu poderia ter sido cruel, mas não fui.
Bill: Eu fiz como que uma mistura de palavras em minha mente, e fiz imagens de todas as coisas que não servem para a definição de ser cruel – que é um conjunto de coisas diferentes! Minha mente ficou cheia com tanto material.
Steve: Sim, muitas pessoas pensam nas categorias digitais "ou / ou" ignorando completamente o fato de que existem muitas coisas ou eventos, no mundo, que não são clementes nem cruéis – o tapete sobre o assoalho, por exemplo. Cada um de vocês fez algo um pouco diferente, mas vocês dois viram exemplos contrários a serem cruéis. Vocês fizeram algo diferente daquilo que a maioria das pessoas faz, e, neste caso, é uma opção muito boa, por razões que se tornarão claras à medida que explorarmos ainda mais o assunto. No entanto, agora eu gostaria que vocês fizessem imagens de ser cruel, e depois negassem isso de alguma forma, para experimentar como funciona isso.
Depois, quero que todos vocês levem isso ao extremo. Como seria sua vida se não somente uma de suas qualidades, mas todas as suas qualidades fossem definidas como negações? Tomem um ou dois minutos para experimentar o que é, para vocês, imaginar que quando vocês pensam sobre si mesmos sempre é em termos daquilo que vocês não são. Todas as suas qualidades são experimentadas dessa maneira. Como é isso? ...
Alice: Eu estou consciente de todas essas coisas ao meu redor, das quais eu não gosto, e estou me afastando disso tudo. Toda a minha atenção é dirigida para todo esse assunto desagradável ao meu redor.
Steve: Sim, é realmente uma experiência de afastar-se do desagradável, sem possibilidade de ir em direção a qualquer coisa. Sem opções positivas para as quais dirigir-se, vocês se sentem muito limitados e parados. A maioria das pessoas que procuram a terapia fazem isso, pelo menos numa situação de problema. Elas estão tão focalizadas naquilo que não querem, que não têm muita atenção para o que querem.
Sam: É muito escuro; sinto-me muito só e com medo, separado e sem poder, atrapalhado com todas essas coisas que eu não gosto.
Lois: Eu não posso ver qualquer distinção. Eu tenho este sentido de vazio na barriga e no peito, por não saber quem sou, apenas quem não sou.
Steve: Sim, focalizando a negação, não há maneira de pensar sobre aquilo que você é, e não há critérios positivos para fazer distinções. Você até pode levar essa negação um passo à frente, e dizer: "Eu não sou o tipo de pessoa que –" A frase "tipo de pessoa" descreve uma categoria de pessoa, que dissocia ainda mais o sujeito do comportamento negado. Alguém também poderia dizer: "Eu não sou desonesto". Como "desonesto" já é uma negação, ele está negando uma negação! Pode haver algumas conseqüências interessantes e úteis nessas variações, mas o ponto principal é que a pessoa está definindo a si mesma pela negação, e isso não lhe oferece nada de positivo com o que identificar-se.
Isso aconteceu nos Estados Unidos em escala nacional, durante a guerra fria. Nosso governo ficou tão focalizado no anticomunismo, que nós nos tornamos aliados de muitos governos corruptos, tiranos, e anti-democráticos, por eles serem "anti-comunistas." Não percebíamos o que eram, porque estávamos interessados somente naquilo que não eram, e tínhamos apenas um critério de definição negativo para isso. As espécies de imagens que fazemos com relação a nós mesmos tenderão a gerar o comportamento que está nas imagens, exatamente como uma ponte ao futuro. Que espécie de comportamentos poderiam ser gerados por essas imagens e suas respostas a elas?
Alice: Eu tenho uma tendência de sentir-me como fazendo o que aparece em todas aquelas imagens, e então paro de fazer. Eu me sinto como se fôsse todas aquelas coisas horríveis, mas, ao mesmo tempo, eu não quero pensar nisso.
Rich: Eu sinto um vazio terrível dentro de mim, pois não sei quem sou, e estou preocupado com o que os outros pensam de mim, como uma forma de encontrar algum sentido sobre quem sou.
Steve: Outra maneira para descrever isso é que uma representação de "não ser" age de maneira muito semelhante a um comando negativo. Lembra-se dos comandos negativos? "Não pense em coelhos vermelhos. Especialmente não dançando. E certamente não dando cambalhotas". Qualquer coisa declarada no negativo faz-nos pensar exatamente naquilo que não queremos pensar. Pensar em você como "não cruel" resulta no fato de você pensar em ser cruel. Um exemplo muito simples disso são os sinais de trânsito, de "não dobrar à direita". Uma seta em curva, com um círculo vermelho sobre ela atravessado por um corte. Primeiro, nossa mente faz uma representação do que é dobrar à direita, o que nos prepara para fazer isso, e depois temos que negá-la e fazer algo diferente.
Uma vez que o inconsciente não responde à negação, ele se identificará com o que é negado, enquanto a mente consciente se identificará com o oposto, criando um conflito inerente entre os aspectos consciente e inconsciente do conceito de si próprio.
Conscientemente, alguém pode sentir-se bem ao pensar em si mesmo como "não cruel", enquanto inconscientemente se identifica como cruel. Essa disparidade, por si só, tem diversas conseqüências. Uma delas é que quando o lado inconsciente é expresso, a mente consciente da pessoa ignorará o fato, e, se alguém comentar sobre isso, parecerá completamente confuso e incompreensível, e o comentário até poderá ser interpretado como malicioso e infundado.
Fred: Eu tenderia a notar a crueldade, e todas essas outras coisas em toda parte. Eu a veria ao meu redor, e provavelmente perderia todo o material positivo. Eu também me sentiria superior a todas aquelas pessoas ao meu redor que estão fazendo essas coisas ruins.
Steve: Sim, há uma comparação implícita entre a gente e os outros. Outras pessoas fazem essas coisas terríveis, e eu não, portanto posso sentir-me superior a elas. E essa comparação e superioridade também vão resultar em sentir-me muito separado delas, diferente e solitário. Se você tivesse vivido toda a sua vida assim, o que diria um psiquiatra?
Fred: "Paranóico" é a palavra que vem à minha mente. Imaginar e notar coisas ruins ao seu redor, ter medo e manter-se vigilante, idéias de importância e superioridade, sentimento de solidão e ameaça, e lutar contra isso.
Steve: Sim, exatamente. A paranóia é o extremo de um processo que quase todos fazem, até certo ponto, e que foi descrita há mais de cem anos como "projeção". Eu "projeto" meus pensamentos desagradáveis no mundo, e vejo-os ao meu redor, ao invés de em mim mesmo. Mas, embora a projeção tenha sido descrita com alguns detalhes há muito tempo, ninguém jamais apresentou o mecanismo de como ela realmente funciona, ou de que maneira podemos mudá-la. Sempre foi simplesmente, "Isso é o que acontece, e todos fazem pelo menos um pouco disso, e os paranóicos fazem muito, e é assim que se reconhece a paranóia". Os paranóicos geralmente são tidos como pessoas muito iradas, que reprimem a mania, expressando-a sob a forma de retaliação contra seus perseguidores; mas eu não tenho certeza se isso é verdadeiro. Eu acho que pode ser simplesmente o resultado de uma definição de si próprio representada por uma negação, sendo a paranóia a sua conseqüência natural.
Quando eu estava na escola secundária, morando numa comunidade muito pequena, numa cabana, eu conheci um homem realmente doce e gentil, com uma orientação Quaker, que cuidava muito das outras pessoas. Ele consertava carros, mas depois era muito difícil vendê-los. Quando alguém aparecia interessado em um carro, ele lhe perguntava em que iria usar o carro. Depois, geralmente ele lhe dizia: "Este carro não lhe serve", e mostrava-lhe que tipo de carro seria melhor para ele. Mesmo passados 50 anos, eu posso ver claramente aquele rosto, e ouvir sua voz. Quando falava sobre si próprio, ele quase sempre dizia: "Eu não sou o tipo de pessoa que -" Quando o vi pela última vez, há uns quinze anos, ele tinha entrado em plena paranóia - ele sabia que o FBI, a CIA e a Máfia estavam atrás dele. A paranóia é um ponto final realmente cruel, e eu acho que muita gente amável e doce cai em sua armadilha.
Há um outro exemplo, não tão extremo, mas que vai na mesma direção. Recentemente, eu estava conduzindo quatro alunos da 9ª série numa viagem para o interior. Dois deles eram do grupo "descarado (cool)" e falaram durante quase toda a hora de viagem. Muito de sua conversa girou sobre programas de TV e cinema, um pouco sobre a viagem ao interior e outros eventos correntes. Eu gradualmente percebi que o que era comum em seus comentários era sua atitude de desdém, menosprezo e desgosto. Toda a conversa deles girou sobre o que eles não eram, e seus risos expressavam sua superioridade sobre o objeto de seu escárnio. Em resumo, eles se consideravam "descarados" porque zombavam de quase tudo. Não havia nada em suas afirmações sobre o que eles eram, mas somente sobre o que não eram. Isso levou-os a se sentirem vazios interiormente e, estar com o grupo dos "descarados" era um refúgio que lhes dava, pelo menos, um pouco de identidade e conexão com os outros.
Descobrir o processo que está na base da projeção foi um resultado completamente inesperado de modelar a maneira como funciona o autoconceito. Saber como esse processo funciona aponta o caminho para mudar essa situação. A projeção começa com essas imagens negativas do que eu não sou, e o resto é nossa resposta natural a essas imagens negadas. Agora que você tem uma compreensão deste processo, você estará sensível a ele, e começará a notá-lo naquilo que as pessoas dizem e fazem. Presumindo que as imagens negadas causam projeção, como você mudaria isso, para que houvesse menos projeção por parte de outras pessoas?
Sally: Bem, isso parece muito fácil, mas você não pode simplesmente pedir que a pessoa faça imagens positivas daquilo que está negando? "OK, você não é cruel; o que você é?" Isso a levaria a fazer imagens positivas de ser compassiva ou o que quer que seja a qualidade positiva.
Steve: Exatamente. Quando você nega uma representação negada para um exemplo positivo, você está apenas mudando a representação, não o significado, de modo que fica fácil fazer isso.
"Diga-me uma das maneiras como você não é cruel."
"Eu não torturo gatos."
"Ótimo. O que você faz com os gatos?"
"Eu cuido deles e os alimento."
"Muito bem. Coloque uma imagem de cuidar e alimentá-los no lugar da imagem de não torturá-los".
O autoconceito é um sistema de avanço orientado para os acontecimentos futuros, portanto aplicam-se todos os critérios positivos daquilo que tem sido chamado de "resultado bem formado". O que você quer, exatamente? Onde, quando e com quem você quer isso? Etc. Primeiro, muda-se o rótulo resumido da "referência rápida" da base de dados de "não cruel" para "clemente", e depois deixa-se que eles sigam através de toda a sua base de dados e mudem cada uma das representações para positivas, de clemência. Isso pode parecer um pouco entediante, mas na verdade acontece muito rapidamente, especialmente se você agrupar exemplos semelhantes. E, geralmente, a mente inconsciente da pessoa pega a idéia muito rápido e faz o resto sozinha.
Naturalmente, esse processo é bem mais difícil de realizar se a pessoa já fez todo o caminho para uma paranóia completa e, em razão disso, considera você como parte dos elementos ameaçadores ao redor dela e não pode confiar em você. Assim, se você sugerir a mudança de representações negadas para representações positivas, ela poderá pensar que isso é parte da conspiração contra ela e se recusará a fazer isso.
Dan: E se você disser à pessoa, em grandes detalhes, o que não fazer? "Não mude nenhuma das imagens daquilo em que você não está para imagens daquilo em que você está?" Parece-me que se a pessoa não tem confiança na gente, quando a mandamos fazer algo ela fará o contrário.
Steve: Isso poderia funcionar, mas eu acho que você terá de construir algum raciocínio para fazer isso, que esteja conforme com o sistema de crenças do sujeito – talvez algo casualmente mencionado, sobre o grande perigo de fazer imagens negativas, porque elas tendem a cegar você para aquilo que está realmente acontecendo ao seu redor, e que, naturalmente, o tornam vulnerável perante as pessoas que desejam prejudicá-lo. Outra maneira de fazer isso é acompanhar a falta de confiança, dizendo: "Não confie em mim." Isso torna-o paradoxalmente pelo menos um pouco confiável, porque você está concordando com seu sistema de crenças. "Eu quero que você analise cuidadosamente tudo o que eu digo e faço, a fim de certificar-se de que não há nada que possa prejudicá-lo." Isso simplesmente concorda com o que ele vai fazer de qualquer maneira, enquanto pressupõe que "Não há nada prejudicial nisso." Depois, você pode continuar dizendo algo como, "Mesmo se eu estiver agindo com a melhor das intenções, eu posso inadvertidamente fazer algo que possa prejudicá-lo."
Essa sentença pode parecer um acompanhamento bastante inócuo, mas introduz duas distinções pressupostas muito importantes e intimamente relacionadas: Uma é a diferença entre a intenção e o comportamento, e a outra é a diferença entre a intenção e o acidente. Um paranóico toma o prejuízo percebido como prova de más intenções, logo, pensar sobre a possibilidade de prejuízo resultante de boas intenções, ou prejuízo acidental completamente separado de qualquer intenção, introduz, numa única sentença, dois exemplos contrários possíveis ao seu sistema de crença. Assim como muito poucas pessoas compreendem as conseqüências dos comandos negativos, a maioria delas não tem idéia do quanto isso é importante Ter representações positivas de suas qualidades (mesmo que não as gostem) ao invés de negações. Elas não se dão conta de como um autoconceito que é definido negativamente pode conduzi-las a problemas sérios. Existem muitas pessoas que podem beneficiar-se do aprendizado de como pensar sobre si mesmas sem negações, simplesmente mudando suas representações negativas em positivas, e esta é uma mudança muito fácil de conseguir, quando se sabe o que fazer.
"Autoconceito negativo" (valorizado positivamente)
Nós temos explorado a experiência de não ser algo que não se valoriza. Agora, vamos explorar a outra possibilidade, isto é, de pensar sobre si próprio como não sendo algo que valorizamos. Novamente, pense em algo que você não é, mas, desta vez, algo que você valoriza. "Eu não sou perseverante," "Eu não sou gracioso", "Eu não sou paciente", ou outra qualidade que você valoriza. Tome alguns minutos para explorar como você representa isso, e como é essa experiência...
Amy: Eu vejo muitas imagens de como seria, para mim, possuir essa qualidade, e posso entrar nelas para sentir como seria, mas o sentimento é apenas parcial, e eu sei que ainda não estou lá.
Steve: "Ainda não estou lá". Portanto, essa é uma qualidade que você espera ter no futuro. Qual é sua reação àquelas imagens, e o sentimento que você recebe delas?
Amy: Elas me atraem, são motivadoras. Eu penso muito nelas.
Steve: Parece que você tem exemplos de ponte ao futuro dessa qualidade, mas não tem exemplos presentes ou passados delas.
Amy: Sim, eu acho que é por isso que sei que ainda não as tenho.
Sam: Eu pensei sobre uma qualidade que tenho, mas desejo tê-la mais forte, e sei que ainda não tenho essa força adicional. Como Amy, eu me sinto atraído por ela e gosto dela.
Steve: Sim, exemplos de algo que você espera ter no futuro são bem diretos e úteis; eles estabelecem um objetivo que é positivamente motivador. Cada um de nós trabalhou isso bastante enquanto estávamos crescendo e desenvolvendo nossas capacidades e habilidades. Contudo, pensar numa qualidade que você não tem e não espera ter no futuro é muito diferente. Alguém tem um exemplo disso?
Sue: Sim, eu vejo outros com a qualidade que eu não tenho. Sinto-me vulnerável porque não a tenho. Eu tenho inveja deles, e sinto-me diferente e inferior em relação a eles.
Steve: Agora, quero que todos vocês façam o que a Sue fez, e que levem esse processo ao extremo. Imaginem que todo o seu foco estava em qualidades valorizadas que vocês não possuem, e que vocês não esperam ter. Tomem alguns minutos para experimentar como é isso.
Alice: Eu me sinto como uma Marciana. Não gosto de saber que todo mundo tem aquelas qualidades maravilhosas e eu não. Sinto-me realmente inferior a todos, e não gosto deles por serem tão diferentes de mim.
Dan: Eu sinto um vazio interior porque, mais uma vez, tudo o que noto é o que não sou, e não tenho qualquer sentido de quem eu sou. Também sinto muita distância, e a palavra "injusto" vem á minha mente.
Steve: Sim, pensar em você como não tendo uma qualidade geralmente envolve pensar em outros que a têm, assim há, mais uma vez, uma comparação implícita e a percepção das diferenças entre você e os outros. Um dos meus critérios para um autoconceito efetivo é de que não haja comparações, mas somente representações positivas de suas próprias qualidades. Outro critério é que um autoconceito útil reuniria as pessoas e não as separaria acima/abaixo, superior/inferior, etc.
Quando comparamos a nós mesmos com outros, geralmente pensamos sobre uma qualidade só por vez; geralmente não pensamos em todas as outras diferenças entre nós. Quando comparamos a nós mesmos com outros, podemos sempre encontrar outros que são melhores ou piores do que somos, dependendo daquilo que escolhemos para comparar. Essa comparação torna nosso autoconceito dependente dos outros, ao invés de ser algo que temos internamente, independente dos outros. A comparação com os outros também afasta nossa atenção das qualidades que valorizamos em nós mesmos, e provavelmente resultará em julgamento de nossas falhas, maus sentimentos, e outras conseqüências inúteis.
Steve: Sue e Dan, como se sentem ao pensar que terão essa qualidade algum dia?
Dan: Eu sinto um alívio agradável, como energia e atenção fluindo em direção daquilo que agora penso poder tornar-me um dia.
Sue: Nunca me ocorreu que um dia eu pudesse tê-la.
Steve: Bem, está ocorrendo agora. Faça o jogo do "como se".
Como seria se você pensasse que terá essa qualidade algum dia?
Sue: Pensar que terei essa qualidade algum dia é um pouco irreal para mim, mas eu começo a imaginar como seria tê-la, e como isso poderia acontecer, e assim sinto-me melhor sobre não tê-la. Estou mais interessada em como essas outras pessoas a têm ao invés de sentir-me mal porque não a tenho.
Steve: Nossa expectativa do futuro faz uma enorme diferença em como respondemos a uma experiência de não possuir uma qualidade. Se você espera ter uma qualidade no futuro, isso pode lhe dar uma experiência maravilhosa de estar motivada a desenvolver essa qualidade. Ver alguém que expressa uma qualidade valorizada pode ser um rico recurso para descobrir o quanto é possível para você, e por descobrir como você pode também tê-la.
No entanto, se você não espera ter algo no futuro, isso resulta em insatisfação, inveja dos outros, sentimento de inferioridade, etc. Assim, se alguém está pensando sobre uma qualidade valorizada que não espera ter no futuro, e você trabalha com ele para mudar sua expectativa negativa, isso faz uma grande diferença para ele. Ele pode ir da inveja, inferioridade e infelicidade para uma motivação forte.
"Que experiências e crenças estão sob sua expectativa de não ter a qualidade no futuro? Qual é sua evidência para a crença dele, e que evidência existe para a crença oposta de que você pode esperar alcançar essa qualidade no futuro? Quando foi que você experimentou um grau, mesmo pequeno, da qualidade, talvez numa situação incomum, ou talvez há muito tempo, ou em um sonho?"
Fred: Mas num certo estágio da vida, algumas coisas podem não ser mais possíveis para uma pessoa, especialmente quando existem limitações físicas.
Steve: Bem, todos nós sempre temos limitações físicas. Lembre-se de que estamos falando de qualidades pessoais. A qualidade afeta o que fazemos, mas afeta principalmente as maneiras como fazemos algo. Mesmo que haja grandes limitações naquilo que podemos fazer, nós sempre temos alguma escolha sobre como fazer o que podemos. Uma qualidade como a graça física pode ser expressa tanto em salto de varas como em oferecer a alguém uma fatia de torrada, e isso vale para a maioria das qualidades.
As representações negativas das qualidades valorizadas podem ser motivadores muito úteis e valiosos, enquanto pensamos ser possível desenvolver essa qualidade no futuro. Mas, se realmente não acreditamos que podemos alcançar algo, é melhor focalizar simplesmente nossa atenção em todas as qualidades valorizadas que temos, e admirar e sentir prazer nas qualidades únicas e excepcionais que os outros têm, dispensando todas as comparações e representações negativas.
Este artigo foi adaptado de um capítulo do livro:
Transforming Yourself: becoming who you want to be, 2002 www.realpeoplepress.com
Steve Andreas vem aprendendo, treinando, pesquisando e desenvolvendo métodos de PNL pelos últimos 24 anos. Ele é o autor de Virginia Satir: The Patterns of Her Magic, e de uma antologia, Is There Life Before Death, e é o co-autor (com sua esposa Connirae) de Heart of the Mind (A Essência da Mente - Summus) eChange Your Mind – and Keep the Change (Transformando-se - Summus), editor ou co-editor de quatro dos mais conhecidos livros de Bandler/Grinder.
Publicado na Anchor Point de Janeiro/2002
Trad. Hélia Cadore
Publicado no Golfinho Impresso Nº87 de maio/2002